sábado, 30 de março de 2019

              "PLANO COHEN, UMA FRAUDE PARA MANTER VARGAS NO GOVERNO".
              imagem internet
   
   O Plano Cohen consistiu em um documento forjado pelo capitão Olympio Mourão Filho, membro da Ação Integralista Brasileira (AIB). Esse documento relatava que os comunistas pretendiam tomar o Estado e assassinar diversos políticos. O Plano Cohen foi utilizado pelo governo para fechar o Congresso e decretar nova Constituição, próximo à eleição para a presidência da República que seria realizada em 1938.

   Em junho de 1937 estava ocorrendo a campanha eleitoral. Candidataram-se para as eleições que se realizariam em janeiro de 1938: Armando de Sales Oliveira pela União Democrática Nacional (UDN), o situacionista José Américo de Almeida, e o chefe da AIB, Plínio Salgado. Getúlio Vargas assumiu uma postura de neutralidade na campanha, e a candidatura situacionista não ganhou vulto.


   Nesse mesmo mês expirou o estado de guerra e os presos políticos sem processo foram libertados sob a chancela do ministro da Justiça, José Carlos de Macedo Soares. Diante disso, os integralistas iniciaram forte ação anticomunista. Em agosto de 1937, Plínio Salgado anunciava que os opositores dele à presidência da República eram apoiados por agentes comunistas. O líder integralista prevendo a derrota nas urnas optava pela propaganda anticomunista que era uma das principais tônicas do integralismo.

   Getúlio Vargas aproveitou a situação de instabilidade gerada por Plínio Salgado, e iniciou as articulações para o golpe do Estado Novo. Em setembro de 1937, Getúlio Vargas elaborou junto a Francisco Campos uma nova Constituição para o país. Essa Constituição foi apresentada a Plínio Salgado que também conspirou para a instauração do Estado Novo.


   A circulação do documento falso, batizado de Plano Cohen, começou entre os militares e governantes também em setembro de 1937. O nome Cohen seria do pretenso comunista autor do documento. Em 30 de setembro de 1937, o Plano Cohen foi divulgado ostensivamente nas mídias de massa, inclusive no programa radiofônico A Hora do Brasil. O comunicado na imprensa do general Francisco José Pinto, chefe do Gabinete Militar da presidência da República, dizia haver “instruções do Komintern” (Terceira Internacional Comunista) para insuflar insurgências no Brasil.

   A conjuntura política do país não permitia qualquer manifestação da esquerda. Desde 1935 as perseguições políticas asseveraram. Não somente os membros do Partido Comunista do Brasil e os revoltosos de 1935 foram presos, mas também intelectuais e políticos acusados de aproximação com as ideias de esquerda sofreram com o cárcere. Dentre os relatos sobre a prisão durante esse período está a obra Memórias do Cárcere do escritor alagoano Graciliano Ramos, narrando as impressões sobre a dinâmica entre os presos políticos e os demais presos do regime varguista.

   Apesar da evidente falsidade do Plano Cohen, foi decretado o estado de guerra devido à ameaça comunista, em 2 de outubro de 1937. A decretação do estado de guerra ensejou o fechamento do Congresso e a instauração do Estado Novo por Getúlio Vargas com o apoio das forças armadas, em 10 de novembro de 1937.

   Malgrado o apoio da Ação Integralista Brasileira na instauração do Estado Novo, Vargas tornou-a ilegal em 1938. A autoria do documento falso somente foi revelada em março de 1945 pelo general Góis Monteiro devido à iminência da queda do Estado Novo.

Referências:

BRANDI, Paulo. “Plano Cohen” (Verbete). Rio de Janeiro: FGV/CPDOC.
FAUSTO, Boris (org.). O Brasil Republicano: economia e cultura (1930-1964). tomo 3, vol.4. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1995. (Col. História da Civilização Brasileira).
RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. Vol. 1. Rio de Janeiro - São Paulo: Ed. Record – Martins, 1975.. Memórias do Cárcere. Vol. 2. Rio de Janeiro - São Paulo: Ed. Record – Martins, 1976.
Arquivado em: Era Vargas

sábado, 2 de março de 2019



                     INVASÃO CHINESA DO TIBETE EM 1950



 
   A região do Tibet vive nos últimos anos uma conjuntura sócio-política delicada devido à questão da ocupação chinesa aos seus territórios. A atual visibilidade desse problema, na verdade, retoma toda uma trajetória milenar de acontecimentos históricos. No período de expansão do império mongol, as tropas da dinastia Kahn realizaram a ocupação dos territórios chinês e tibetano. Séculos mais tarde, os Ching, última dinastia a controlar o regime monárquico chinês também exerceu domínio sob os tibetanos. 

   Seguida a proclamação da república chinesa, no ano de 1912, as lideranças políticas do Tibet se mobilizaram em torno da expulsão das forças chinesas de seu país. Em 1913, o 13º Dalai Lama proclamou a independência do Tibet, mesmo sem ter o reconhecimento das autoridades chinesas. A indefinição sobre a questão propiciou um período de animosidades que resultaram na deflagração de um conflito armado em 1918. Tal conflito não deu um ponto final às alegações de cada uma das nações. 

   Na segunda metade do século XX, a Revolução Comunista Chinesa veio a reacender com mais intensidade as disputas entre China e Tibet. As forças militares comunistas realizaram a invasão de regiões de fronteira, buscando ampliar a zona de influência política revolucionária. Sentindo-se prejudicadas, autoridades tibetanas recorreram ao poder de arbítrio da Organização das Nações Unidas. Sendo forçada a assinar um tratado que garantia o poder de intervenção chinês, os tibetanos permaneciam em situação desfavorável. 

   Em 1951, as tropas de Mao Tse-tung, líder máximo da China comunista, empreenderam a ocupação efetiva da região tibetana. Sem poder oferecer grandes resistências, o Tibet teve suas tradições culturais, políticas e religiosas denegridas pelo massificante projeto dos comunistas chineses. Diversos mosteiros foram destruídos, uma reforma agrária foi imposta à população local e a autoridade dos monges tibetanos foi significativamente restringida. 

    No ano de 1959, a população do Tibet organizou um dos maiores levantes contra a ocupação chinesa. A violência dos conflitos instalou uma situação gravemente ameaçadora à integridade física e política do Dalai Lama. Desde então, o Dalai Lama vive foragido na Índia e viaja pelos países de todo o mundo buscando apoio político em relação à libertação do Tibet. Ao longo de todo esse tempo, diversos tibetanos também optaram pelo exílio em diferentes países. Tal fato abriu maior espaço à dominação chinesa. 

   Atualmente, grande parte da população do Tibet é de descendência chinesa. Os líderes políticos da China se apoiam em tal fato para ratificarem o processo de dominação dessa região. Além disso, o governo chinês patrocina um processo de transformações no Tibet que aproxima o traçado arquitetônico e a economia tibetana dos modernos pólos de desenvolvimento da China. Além disso, os monges tibetanos têm suas atividades e demonstrações públicas sistematicamente vigiadas pelas autoridades chinesas. 

    No ano de 2008, as preparações para as Olimpíadas de Pequim serviram como palco de diversos protestos em torno da questão tibetana. Artistas, manifestantes independentes, grupos políticos e ONG’s de todo mundo demonstram apoio a causa tibetana. Em contrapartida, a notória influência econômica dos chineses impede que grandes nações e organismos internacionais exerçam pressão contra a China com respeito a esse delicado problema.

Por Rainer Sousa 
Mestre em História